g2g

      Comentários desativados em g2g

Espaço-tempo-vestimenta para repensar gênero e tecnologia

g2g = tics & tags

tudo que comemos contém a potência da germinação. basta guardar as sementes, separá-las, a deixarmos secar ao sol depois de lavadas. algumas gostam de água para iniciar seu processo de floração, outras da terra, absolutamente todxs necessitamos de bom ar, para germinar. somos tácitas a sons e cheiros.

essa é uma história de um coletivo de mulheres. não se sabe bem se por gênero-a-gênero, garota-garota, gata-a-gata mas talvez pelo singelo desejo de coexistir na igualdade. nos soa impróprio nos ligarmos por um padrão biológico, já que existem mutantes dinâmicas em cada ser, somos anti-darwinistas (acreditamos na seleção por cooperação), mas essas categorias sem dúvida trazem aproximações comuns interessantes já que lidamos com o imaginário comum humano. e ainda sofremos as consequências de um modo de pensamento totalitário. conversar sobre parentalidade, sexualidade, a opressão tecnocrática ou a gélida carga de violência ancestral de nossos pares são pequenos ritos de dor, onde muitas vezes recriamos o amor dentro. creio que nos agrupamos por essa categoria justamente para desconstruí-la, desenraizarmo-nos colonizadoras.

o grupo de estudo em gênero e tecnologia g2g iniciou seus encontros em um espaço de mídia independente chamado ip, na lapa RJ do ano de 2004. tornaram-se o blog interfaceg2g em uma imersão por BH com aproximadamente 9 meninas. usamos muito de nosso tempo juntas para a construção de um espaço virtual seguro. em uma lista de discussão na internet iniciamos conversas sobre praticamente tudo, de pós-pornô a hardware e software livre, não existem possíveis categorias fixas. aprendemos a hospedar nosso site em um servidor autônomo, administrá-lo (algumas vezes de forma precária, e amadora, leia-se, por amor). além dos encontros internos ao vivo e em IRC realizamos oficinas – webdrupal quando muitas de nós vimos juntas o sitio pela primeira vez / RS – FISL, carnaval eclético tech – encontro de mais de 30 mulheres à caminho do festival Submidialogia em Salvador e Lençóis BA, residências tech – liminar – argentina e genderchangers – holanda, outros coletivos de mulheres que trabalham com tecnologias livres no mundo. colaboramos em campanhas anuais pela retomada da tecnologia em Retome a Tecnologia aonde vivenciamos processos de retomada múltipla dessa tecnologia que tanto amamos, mas que aprendemos a construir de forma experimental, crítica e segura. sob esta antiguada e múltipla interface mulher.

nesses anos nos relacionamos entre pares, em ambientes virtuais, desenvolvendo micro-tecnologias afetivas, refúgio diante de outros ambientes “fervilhantes” e conservadores quanto à categoria gênero dentro do mundo digital. muito pela ineficácia da comunicação virtual, além do monopólio corporativo dos serviços e processos de entrada no mundo em rede, faz-se ainda mais necessário um ambiente de aprendizado horizontal e propício à gentil colaboração. existem pesquisas de como a mulher há de ser incentivada a participar da cultura hacker, não somente porque foi historicamente afastada dela mas porque o incentivo pode ser determinante para a descolonização de saberes – um aprendizado-diálogo-escuta.

nossas descobertas e vidas foram se misturando, a lista cada vez menos usada, no entanto nunca desfez-se. muitas meninas se afastaram, talvez mais do que chegaram. não há planos atuais sobre a retomada do coletivo, do site ou a abertura da lista à novas mulheres. estamos dando um tempo.

numa época de pós-porno, teoria queer e a fragmentação completa de gêneros, coloco a pergunta: qual faz sentido um coletivo de mulheres que têm como sul comum tecnologias livres, novos fazeres e saberes? um caos taoísta onde tudo é possível e ao mesmo tempo o mesmo? neste interessante espaço em que não ouvimos uma pessoa porque ela é mulher, somos todas. somos feministas, é claro. mas nosso enraizamento na cultura pós-feminista enlaça-se com a permanente pergunta sobre quem somos.

texto de tati enviado à lista g2g em dezembro de 2011.

Site desarquivado do Archive.org 12/10/2004